domingo, 7 de agosto de 2011

Quer ser um piloto? Veja primeiro quanto mais ou menos você irá gastar.




Quem nunca se empolgou em voar? Eu sempre quis ser um piloto. Resolvi fazer umas pesquisas para saber quanto custa se profissionalizar nesta área e vi que além de não ser nada fácil, também é muito caro!

O salário oferecido já revela a falta de profissionais qualificados para pilotar aviões comerciais: a remuneração inicial é de sete mil reais, mas os salários podem chegar aos 16 mil reais. Para tentar uma oportunidade em companhias como TAM e Gol, os pilotos precisam contabilizar mais de 1.500 horas de voo.


A licença sai por 35 mil reais, mas o valor das despesas para a formação acadêmica e profissionalizante pode dobrar esse valor. A Anac oferece um programa de bolsas parciais que cobrem até 75% do custo das aulas práticas de voo. Para concorrer, os bolsistas precisam encarar uma prova objetiva e avaliação técnica. Este ano, a previsão é de que os exames aconteçam neste mês.


PP-Piloto Privado

O custo do brevê de PP (parte prática) é fácil de arbitrar: basta multiplicar o custo da hora de vôo pelo número de horas voadas. Estas, por sua vez, deverão variar da seguinte maneira:

- Valor da hora de vôo: normalmente, escolas de aviação (ex. EJ, QNE, etc) tendem a ser mais caras que aeroclubes, a despeito de suas vantagens; e quanto mais sofisticado e caro for o avião, mais cara a hora de vôo. No caso do PP, em que normalmente só se voa em monomotores, o valor máximo que se paga para voar é o do Cirrus-G2 (que é um desperdício, pois não se usará o equipamento IFR do avião), que custa R$700/h na EJ; e o valor mínimo é o cobrado em alguns aeroclubes do interior do Brasil: R$150/h.

- Número de horas voadas: existem dois parâmetros para balizar o número de horas necessárias para alguém estar apto a checar o PP (o mínimo regulamentar é de 35h): 1)onde se voa; e 2)habilidade do piloto. Para quem voa em localidades complicadas, como o Campo de Marte, perde-se muito tempo nos deslocamentos até a área de manobras, no táxi, e aguardando autorizações – além de ser necessário ficar mais proficiente em fonia. Por isso, para um piloto mediano, serão necessárias cerca de 50h até o cheque do PP no Campo de Marte, e próximo do mínimo (35h) em localidades mais tranqüilas. Entretanto, conheço pessoas que precisaram de 80h de vôo mesmo voando em Jundiaí…

Existe, ainda, a opção de se fazer um vôo noturno em duplo comando para que o piloto tire a restrição noturna, mas isso é bobagem porque essa permissão só vale por 120 dias, e em 99% dos casos é preciso refazer este vôo, já que o curso de PC demora mais que isso. Numa média geral, contando com o vôo de cheque e repasse, deverão ser necessárias cerca de 45h de vôo em um avião que deverá custar por volta de R$300/h, o que dará cerca de R$13.500. E entre curso teórico (que é opcional, mas recomendável), exames médicos, taxas da ANAC, serão gastos mais R$2.500, em média.


Total do custo do PP: R$16mil.

PC-Piloto Comercial

Calcular o custo da parte prática do brevê de PC é bem mais complicado do que do PP. Primeiro, porque ele vai variar em função das horas de vôo que foram necessárias para se obter o PP, já que a necessidade de 150 ou 140 horas de vôo para o PC são totais (incluem as horas do PP). Depois, porque vai depender das habilitações pretendidas: mono ou multimotores, e IFR ou VFR (existe, ainda, as opções de habilitação terrestre ou anfíbia, mas no Brasil as habilitações para voar aeronaves anfíbias são muito raras). Finalmente, há a questão dos simuladores: se eles serão necessários ou não, e quantas horas de instrução em simulador serão efetuadas.

O principal balizador para a necessidade de horas de vôo para PC (qualquer modalidade) é ter 70h como piloto em comando (para obter a habilitação IFR, pelo menos 50h deverão ser em rota; se não, bastariam 20h – de qualquer forma, em termos de valores, isso não muda nada). Como 99,9% dos alunos de PC possuem habilitação MNTE-VFR no PP, essas 70h serão voadas em monomotores em condições visuais, mas em tese poderiam ser feitas em multimotores e em condições IFR se o aluno tivesse uma habilitação MLTE-IFR no PP. Mas, na prática, o custo por hora destas 70h serão parecidos com os custos da hora do PP, por volta de R$300/h – R$21mil no total. Somando-se o número de horas acumuladas no PP com essas 70h do PC, temos um sub-total de horas de vôo que vamos chamar de “SUB1” para facilitar a compreensão – e é a partir desse SUB1 que serão calculadas as outras necessidades de horas de vôo para cada habilitação (por exemplo: se a pessoa checou o PP com 50h, o SUB1 seria de 130h).


Agora, vamos calcular o custo dos vôos noturnos, que segundo a regulamentação são de, no mínimo, 5h de vôo em comando. Se a pessoa tirou sua restrição noturna há menos de 120 dias, não é necessário realizar um vôo noturno com duplo comando para fazer os vôos noturnos do PC, mas como, na maioria dos casos, o aluno nunca tirou esta restrição, ou ela já está vencida, é necessário fazer um vôo em duplo comando de pelo menos 1h para voar à noite em comando. A hora de vôo em aviões homologados para vôos noturnos custa por volta de R$450/h, e na prática este vôo dura aproximadamente 1,5h para dar tempo de fazer 5 decolagens e 5 pousos (outro requisito legal), então esse vôo em duplo comando custará uns R$700. Ocorre que, como se requer que o vôo noturno seja em comando, nada impede que estas horas noturnas estejam inseridas nas 70h de vôo em comando citadas no parágrafo anterior. Desta forma, o custo destas horas será somente o diferencial entre o valor da hora de vôo em avião homologado para voar à noite (cerca de R$450) e o valor da hora de voo em avião “comum” (por volta de R$300), ou seja: R$150/h por 5h, R$750. Então, o custo da parte noturna da instrução vai estar em torno de R$1,5mil, e o SUB2, que é o SUB1 mais o vôo em duplo comando noturno, será o SUB1+1,5h=71,5h (seguindo o exemplo do parágrafo anterior, o SUB2 seria de 131,5h). Até o momento, a instrução do PC está ficando em R$22,5mil.

Agora, é chegada a hora de realizar os vôos em duplo comando IFR, que é quando ocorre a diferenciação entre as modalidades de habilitação escolhida. Neste momento, também haverá grande variação de custos se houver instrução em simulador ou não, e em que tipo de simulador esta instrução ocorreu, como veremos. Antes de partir para cada uma das possíveis habilitações, alguns esclarecimentos prévios:

A) O problema das horas de vôo IFR em aeródromos VFR: A maior parte das escolas de aviação e aeroclubes do país está baseada em aeródromos não homologados para vôo IFR – ou seja: sem procedimentos de saída ou aproximação por instrumentos. Assim, pelo menos na decolagem e no pouso, o vôo deverá ser, obrigatoriamente VFR, o que significa que parte do vôo de instrução IFR deverá ser computada como VFR. Em média, costuma-se computar entre 0,2h e 0,3h do vôo IFR como VFR, e os vôos de treinamento IFR duram por volta de 2h. Com isso, o resultado prático é que para cada 10h de vôo IFR pagos, deve-se voar mais 1h VFR.

B) O problema dos simuladores homologados: em princípio, 25h de simulador AATD abatem 20h de vôo IFR; e 25h de simulador BATD abatem 10h de vôo IFR (existe, ainda, um simulador mais avançado que 30h de uso abateria 30h de vôo IFR, mas só existe um exemplar em funcionamento no Brasil, e por isso vou desconsiderá-lo). Ocorre que muitas escolas e aeroclubes exige que se faça o programa completo, com mais horas que o mínimo requerido pela ANAC. NA EJ, por exemplo, o programa tem 30h, e custa R$130/h – total: R$3.900.

C) Também para o PC, o custo da parte teórica, taxas, etc. é da ordem de R$2,5mil.

Dito isto, vamos às possibilidades e respectivos valores:

1)Habilitação MNTE-VFR: Diz o regulamento que, mesmo para quem quer se habilitar somente em vôo visual, é necessário realizar um pequeno número de horas de vôo IFR: 10h somente em avião, ou 5h em avião, e 5h em simulador. Se a opção for por utilizar simulador, é melhor, então, fazer 10h de simulador, pois aí também reduz-se a necessidade de horas totais para 140h. Supondo que a hora de vôo IFR custe R$450/h, e o simulador saia por R$100/h, os custos ficariam os seguintes:

1.1.)Sem simulador: seriam necessárias 11h de vôo IFR (contando 1h a mais para compensar o aeródromo VFR), que somadas ao SUB2, daria um total de 82,5h. Para atingir as 150h, requeridas para o cheque de PC sem simulador, faltariam 67,5h de vôo, sem contar as horas voadas até o cheque do PP. Aí, deve-se subtrair deste número de horas de vôo do PP para se chegar ao número adicional de horas de vôo VFR necessárias para o PC. Por exemplo: se foram voadas 45h no PP, faltarão, ainda, 22,5h no PC, mais 1,5h para o vôo de cheque de PC, totalizando 24h de vôo VFR. O custo ficaria, então, em 11h de vôo IFR (11h x R$450/h = R$5mil), mais 24h de vôo VFR (24h x R$300/h = R$7,2mil), totalizando R$12,2mil. Como já estávamos em R$22,5mil, chegamos em aproximadamente R$35mil para a parte prática na modalidade MNTE-VFR sem simulador, ou cerca de R$38mil contando tudo. Desde o PP, seria algo próximo de R$54mil.


1.2)Com simulador: seriam necessárias 5,5h de vôo IFR (contando 0,5h a mais para compensar o aeródromo VFR), que somadas ao SUB2, daria um total de 77h. Para atingir as 140h, requeridas para o cheque de PC com simulador, faltariam 63h de vôo, sem contar as horas voadas até o cheque do PP. Aí, deve-se subtrair deste número de horas de vôo do PP para se chegar ao número adicional de horas de vôo VFR necessárias para o PC. Por exemplo: se foram voadas 45h no PP, faltarão, ainda, 18h no PC, mais 1,5h para o vôo de cheque de PC, totalizando 19,5h de vôo VFR. Fora isso, haveria, ainda, o custo de 10h de simulador, a R$100/h, total: R$1mil. O custo ficaria, então, em 5,5h de vôo IFR (5,5h x R$450/h = R$2,5mil), mais 19,5h de vôo VFR (19,5h x R$300/h = R$6mil), e R41mil do simulador, totalizando R$9,5mil. Como já estávamos em R$22,5mil, chegamos em aproximadamente R$32mil para a parte prática na modalidade MNTE-VFR com simulador, ou cerca de R$35mil contando tudo. Desde o PP, seria algo próximo de R$51mil.

2)Habilitação MNTE ou MLTE com IFR: Não há muita diferença entre as habilitações mono e multimotores, a não ser o custo de 15h de vôo IFR, realizados em aeronave multimotora, a um custo médio de R$1.000/h (vale lembrar que é possível realizar, ao mesmo tempo, treinamento IFR e MLTE). Para arbitrar a diferença referente ao uso de simulador BATD ou AATD (não é usual realizar o treinamento IFR sem simulador, até porque o simulador facilita a compreensão de aspectos do vôo IFR que seriam complicados de fazer em voo real), utilizaremos os preços médios de R$80/h para o simulador BATD e R$120/h para o AATD (média de R$100/h, como no item anterior), e um treinamento de 30h em simulador. Os custos resultantes seriam os seguintes:

2.1.1)Habilitação MNTE-IFR com simulador BATD: seriam necessárias 33h de vôo IFR (contando 3h a mais para compensar o aeródromo VFR) que somadas ao SUB2, daria um total de 104,5h. Para atingir as 140h, requeridas para o cheque de PC com simulador, faltariam 35,5h de vôo, sem contar as horas voadas até o cheque do PP, o que significa que não serão necessárias horas de vôo adicionais em VFR para atingir o mínimo (deve ter sido voada mais que 35,5h no PP). O voo de cheque vai levar 3h (1,5h para o PC e 1,5h para o IFR), o que significa um custo de 36h de IFR (36h x R$450/h = R$16,2mil) e 30h de simulador BATD (30h x R$80/h = R$2,4mil), um total de R$18,6mil. Como já estávamos em R$22,5mil, chegamos em aproximadamente R$41mil para a parte prática na modalidade MNTE-IFR com simulador BATD, ou cerca de R$43,5mil contando tudo. Desde o PP, seria algo próximo de R$60mil.


2.1.2)Habilitação MLTE-IFR com simulador BATD: em relação ao item anterior, neste treinamento haveria o acréscimo de R$550/h (R$1.000 – R$450) em 15h de vôo, ou seja: R$8,3mil a mais, além do voo de cheque MLTE, orçado em R$1,5mil para 1,5h de vôo, totalizando cerca de R$10mil. Isso significa que esta etapa do treinamento, se realizada em aeronave MLTE, ficará em cerca de R$28,5mil. Como já estávamos em R$22,5mil, chegamos em aproximadamente R$51mill para a parte prática na modalidade MLTE-IFR com simulador BATD, ou cerca de R$53,5mil contando tudo. Desde o PP, seria algo próximo de R$70mil.

2.2.1) Habilitação MNTE-IFR com simulador AATD: seriam necessárias 22h de vôo IFR (contando 2h a mais para compensar o aeródromo VFR) que somadas ao SUB2, daria um total de 93,5h. Para atingir as 140h, requeridas para o cheque de PC com simulador, faltariam 46,5h de vôo, sem contar as horas voadas até o cheque do PP. Supondo que a pessoa terminou o PP com 45h, isso significa que deve-se voar mais 1,5h VFR para chegar às 140h, a um custo de cerca de R$500. O voo de cheque vai levar 3h (1,5h para o PC e 1,5h para o IFR), o que significa um custo de 25h de IFR (25h x R$450/h = R$11,3mil), os R$500 do vôo VFR, e 30h de simulador AATD (30h x R$120/h = R$3,6mil), um total de R$15,4mil. Como já estávamos em R$22,5mil, chegamos em aproximadamente R$38mil para a parte prática na modalidade MNTE-IFR com simulador AATD, ou cerca de R$40,5mil contando tudo. Desde o PP, seria algo próximo de R$57mil.

2.2.2 Habilitação MLTE-IFR com simulador AATD: em relação ao item anterior, neste treinamento haveria o acréscimo de R$550/h (R$1.000 – R$450) em 15h de vôo, ou seja: R$8,3mil a mais, além do voo de cheque MLTE, orçado em R$1,5mil para 1,5h de vôo, totalizando cerca de R$10mil. Isso significa que esta etapa do treinamento, se realizada em aeronave MLTE, ficará em cerca de R$25,4mil. Como já estávamos em R$22,5mil, chegamos em aproximadamente R$48mill para a parte prática na modalidade MLTE-IFR com simulador BATD, ou cerca de R$50,5mil contando tudo. Desde o PP, seria algo próximo de R$66,5mil.

Resumindo, os custos totais de um brevê (PP+PC) seriam aproximadamente estes:

-MNTE/VFR: R$50mil

-MNTE/IFR: R$60mil

-MLTE/IFR: R$70mil

FONTE: paraserpiloto