domingo, 29 de agosto de 2010

Sarney, o maluco e o avião


Pode parecer estranho para os mais jovens, mas houve uma época em que a economia no Brasil era uma bagunça. Nossa moeda perdia três zeros ou mudava de nome numa velocidade que ficava difícil de acompanhar, o que não agradava (quase) ninguém. Acho que só os numismáticos gostavam dessa situação. A inflação, então, chegava até as alturas. Todo mundo recebia o salário e corria para gastar antes que desvalorizasse o que, é claro, só gerava mais inflação. E os planos econômicos, com nomes nada criativos (Cruzado, Cruzado II, Bresser, Verão) não ajudavam em nada. Tempos difíceis aqueles.

Em 1988, no meio de mais uma crise econômica, o presidente era um certo “escritor” maranhense que só tinha chegado à presidência porque cancelou uma viagem à Paris em 1973. Enquanto isso, em Minas Gerais, Raimundo Nonato Alves da Conceição, conterrâneo de Sarney, havia perdido o emprego de tratorista. Aos 28 anos, não conseguiu outro emprego e culpou o presidente pela recessão e desemprego. Então ele decidiu que ia matar o presidente. Jogando um avião sobre o Palácio do Planalto.

Raimundo podia ser um simples tratorista, mas não era ingenuo. Ele viajou três vezes entre Belo Horizonte e o Rio de Janeiro e constatou que em nenhum dos dois aeroportos havia revista nas bagagens. Depois disso, foi só comprar um revólver – um 32 – e embarcar. Mais simples, impossível. E o Bin Laden gastou anos treinando os seus homens nos Estados Unidos para fazer praticamente a mesma coisa que um tratorista brasileiro desempregado planejou sozinho.

O voo 375 da hoje extinta VASP fazia o trajeto Porto Velho – Rio de Janeiro. Foi esse voo que Raimundo pegou, em Belo Horizonte, no dia 29 de setembro de 1988. Às 10h52 o avião, um novíssimo Boeing 737-300, com quase 100 passageiros, decolou rumo ao Rio de Janeiro. Mas Raimundo tinha outros planos para esse voo…


Ia tudo bem no voo. Os pilotos e os passageiros almoçaram, e o avião já havia entrado no espaço aéreo do Rio de Janeiro quando Raimundo se dirigiu até a cabine de comando. Um comissário tentou impedi-lo, mas Raimundo atirou nele, acertando a orelha – e só não o matou por centímetros. A tripulação na cabine – o piloto, o co-piloto e um terceiro tripulante que viajava para o Rio para fazer um treinamento – fechou a porta, mas Raimundo atirou cinco vezes na fechadura, tentando abri-la. Um dos tiros atingiu o tripulante extra, Gilberto Renhe, na perna. Sem alternativa, o comandante, Fernando Murilo de Lima e Silva (será que ele era parente do Duque de Caxias ?) abriu a porta da cabine. Raimundo entrou e ordenou que o avião mudasse de rumo para Brasília, o que Murilo fez na hora, não sem antes avisar, via um código no trans-poder, que o avião havia sido sequestrado. Quando a torre de comando pediu para o avião confirmar a mudança de rota, o co-piloto Salvador Evangelista se abaixou para pegar o fone e responder. Mas Raimundo, ainda nervoso com o tiroteio, o matou a sangue-frio, com um tiro na cabeça.

O comandante Murilo ficou então numa situação desesperadora. Seu co-piloto estava morto, dois tripulantes feridos, e ele não tinha certeza se haveria combustível para chegar até Brasília. E, só para ajudar, decolou da base de Anápolis um caça Mirage III para “escoltar” o seu avião. Ou derrubá-lo, se fosse preciso. Mas tudo que está ruim pode piorar, como diz o ditado. Raimundo revelou para ele que pretendia jogar o avião contra o Palácio do Planalto.

Mas a sorte começou a virar quando o Boeing chegou à Brasília. A cidade estava muito nublada, e Murilo conseguiu enganar o sequestrador dizendo que não dava para ver o Palácio do Planalto e nem pousar no aeroporto de Brasília. Ficou acordado então que eles iriam pousar em Goiânia. Era o limite do que o comandante acreditava que tinha de combustível. Mas, quando ele já se preparava para pousar, Raimundo mudou de ideia. Queria ir para São Paulo. Estava completamente louco. Murilo então resolveu arriscar. E fez algo tecnicamente impossível: um tonneau, ou seja, um giro completo sob o eixo da aeronave. Ele pretendia derrubar o sequestrador, que estava de pé na cabine.

Fazer um tonneau com um Boeing 737-300 é algo totalmente fora de cogitação, nunca tentado e antes e nunca repetido depois por ninguém. Mas Murilo, desesperado, executou a manobra. Raimundo se segurou e não caiu. Com uma turbina falhando por falta de combustível, Murilo emendou um “parafuso” logo depois do tonneau. Entre os passageiros, reinou o pânico. Alguns acharam que o sequestrador tinha matado o piloto e que o avião estava descontrolado. Outros acharam que o caça da FAB tinha atirado no avião. Apesar da situação desesperadora, Murilo conseguiu se recuperar do parafuso e pousou em segurança em Goiânia. Seu objetivo não tinha sido alcançado. Apesar de ter caído durante o parafuso, Raimundo se recuperou rapidamente.

O que aconteceu depois que o avião pousou foi, como o Brasil na época, confuso. Raimundo queria que o avião fosse reabastecido para ir à Brasília, mas o Boeing estava danificado depois das peripécias de Murilo. Depois de muita negociação, já era noite quando ele concordou em embarcar num Bandeirante cedido pela Polícia Federal. Mas era tudo uma armadilha, montada por ninguém menos que o hoje político Romeu Tuma, na época delegado da PF. Mas o plano deu errado. O agente que estava dentro do avião para render Raimundo acabou se precipitando e atirou antes da hora. Raimundo revidou, atirou para todos os lados e acabou atingindo Murilo na perna. Foi atingido também. Preso, foi levado para um hospital.

Raimundo não foi atingido gravemente. Dois dias depois, chegou a dar entrevistas algemado no leito do hospital. Então, subitamente, morreu. É, morreu. Sua morte foi tão estranha que os legistas do hospital se recusaram a assinar o atestado de óbito. Foi chamado então de São Paulo o legista Fortunato Badan Palhares, que estava na “crista da onda” por ter identificado os restos mortais do Josef Mengele. Ele disse que Raimundo havia morrido de uma infecção porque era portador de uma doença chamada anemia falciforme. Na época todo mundo acreditou. Só tempos depois que ele foi acusado de ter forjado o laudo de morte do PC Farias. Se você está pensando em “queima de arquivo”, não é o único, meu sagaz leitor, minha esperta leitora…

E, como tudo no Brasil, o herói da história acabou esquecido. Trabalhou mais alguns anos na VARIG, até que ela mudou os aviões que usava e mandou todos os pilotos antigos embora, Murilo incluído. Aposentado a contra gosto, hoje ele mora no Rio de Janeiro, e ninguém mais lembra dele. E o Sarney foi quem se deu melhor nessa história toda. Como sempre, aliás.

FONTE: Depokafé

Marcelo Taz (CQC) produz documentário sobre Sarney

Recebi de meu amigo Enzo, um email que me chamou atenção...

Olá Gente amiga,

Eu amo o Maranhão, por isso estudo todos os dias para conseguir ajudar outros a estudarem.

Eu amo o Maranhão, por isso dedico parte do meu tempo para ajudar meu Estado a recuperar sua dignidade democrática.

Eu amo o Maranhão, por isso fico triste ao ouvir, por onde passo, que nós somos os bestas do Brasil, por ainda segurar a família Sarney.

Eu amo o Maranhão, por isso sonho em ver o dia em que os curiosos jovens não terão que sair da sua terra para conseguir maiores conhecimentos.

Eu amo o Maranhão, por isso acredito na possibilidade do desenvolvimento sustentável que respeite o outro e seu habitat.

Eu amo o Maranhão, por isso dói meu coração saber que um dia eu posso dizer para meus filhos que o Maranhão não tem jeito.

Com a nossa cultura, o potencial turístico, agropecuário e tecnológico, temos condições de ser um dos Estados mais ricos do Brasil. Temos mata virgem para preservar e um povo para educar. Ao assistir o vídeo de Marcelo Tas, para nós maranhenses, refleti sobre a minha existência e sobre a importância desse Maranhão para a minha vida. Eu voto em Jackson, porque eu acredito nele, na sua vontade de ver um Maranhão liberto e porque acredito que, atualmente, ele é a única pessoa capaz de conseguir fazer o Maranhão sair das mãos da família Sarney. Você pode estar achando esse texto oportunista, mas eu digo que não. É um texto de desabafo, de quem não agüenta mais ter que preferir sair de casa para encontrar qualificação. Esse Estado só vai desenvolver com conhecimento técnico e científico de qualidade, com pessoas que pesquisem para a melhoria do Estado. Quem pesquisa descobre novas possibilidades e traça o que os que não pesquisam farão. Estou cansada de ver mentes brilhantes irem embora, para serem mão-de-obra qualificada para pesquisar e descobrir possibilidades de desenvolvimento para outros Estados ou países, porque se elas ficarem no Maranhão irão estagnar, não há espaço, nem desenvolvimento profissional, para um maranhense que queira estudar significação fílmica, Cinema ou fazer pós-graduação em Mecatrônica, Música, Jornalismo de Paz, Transmutação Gênica, Direitos Humanos... Por favor, não venda seu voto, pense nas conseqüências desse ato. Ajude o nosso Estado a sair das mãos daqueles que são sanguessugas do povo e carrascos de uma educação de qualidade. Eles sabem que se o povo aprender a pensar eles serão excluídos do Maranhão. Eu não terei essa sorte, mas gostaria muito que meus filhos não tivessem como única opção de evolução profissional, científica e acadêmica ter que sair do Maranhão, deixar seus amigos, família e história para criar raízes em um outro lugar.

Vale a pena pensar sobre o que fará do seu voto. Eu refleti ao ver o vídeo do Tas. Reflita você também.